Ai! Tensão
7 de Junho de 2011
Queria falar-vos , amigos que me lêem, da “Feira da Saúde” em Almodôvar, da Consulta Click e dos 15 anos da Liga de Amigos do Hospital Santa Maria, mas o impulso de hoje ultrapassa-me e tenho que dar aqui o meu testemunho do Grupo de alunos da Escola Vergílio Ferreira e o seu Projecto “Ai! Tensão”.
Para mim tudo começou quando um Grupo de 5 Alunos desta Escola, acompanhados por uma Professora, me procuraram dizendo quererem construir em projecto na escola sobre a Hipertensão e vinham pedir ajuda à minha Fundação (que tem o meu nome).
Para mim, quatro rapazes com um condottiero do género feminino, todos com anos e no 12º ano, pareceram-me uns “lunáticos” pois pouco pareciam perceber do tema, mas a presença de professora orientadora conferia-lhes idoneidade.
Falei com eles, e prometi a ajuda da Fundação. Não os desiludi, antes me mostrei disponível, bem como a Dra. Nilza de Assis, a psicóloga minha Assessora na Fundação, e a Dra. Margarida Francisco, Clínica do nosso Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva (pai e irmão da Fundação).
E fazendo curto todo o ano que passou, com um ou dois pequenos textos revistos, algumas conversas e uma palestra para os sub-20 da Escola e seus professores, chegou hoje (07/06/2011) o dia para que me convidaram: a sessão publica para apresentação do projecto em produto final.
E aqui a razão do meu súbito e transcendente impulso: os “4 mosqueteiros” (como lhes chamei) e a Mariana (que hoje fazia anos e comparei ao Senhor de Trouville do romance de Alexandre Dumas) duma assentada apresentaram:
uma exposição teórica, detalhada e a 5 vozes, sobre o tema hipertensão arterial, causas e consequências, meios de diagnóstico e atitudes terapêuticas e depois sobre alimentação e obesidade.
um filme sobre entrevistas, tipo médico-doente, feitas a colegas seus com hipertensão ou com hipotensão
outro filme com um grupo de cinco “professores” (eles próprios) explicando melhor os assuntos pendentes.
os resultados de um rastreio feito aos alunos da Escola, que incluiu tensão arterial, índice de massa corporal, hábitos alimentares, actividade física, consumo de álcool e de tabaco.
rastreio feito aos pais dos mesmos alunos procurando, por um lado, eventuais justificações genéticas ou outras ambientais, para as variações encontradas, notadamente pré-hipertensão ou mesmo tensão já anormal, ou excesso de peso.
Interrogatório dos pais, com destaque para os hipertensos em tratamento, procurando avaliar os seus conhecimentos (ou falta deles, como se confirmou) sobre a própria doença de que padeciam.
e finalmente rastreio da tensão arterial e dos hábitos alimentares numa faixa etária sub-10 da Escola CBC, a mais próxima da Vergílio Ferreira, para estudo dos valores tensionais e avaliação das preferências alimentares em crianças muito mais jovens.
Depois de mais de 40 anos do que tenho designado como a minha “Luta Nacional Contra a Hipertensão” (iniciada em 1972), e depois do desanimo por nunca encontrar doentes que, voluntariamente, assumissem a criação duma Associação que lutasse pelos seus próprios problemas (incluindo o diagnóstico e a terapêutica) e tentassem fazer o marketing da importância de mobilizar e dar o conhecimento a todos os sub-20 (dos 0 aos 19 anos de idade) como a faixa mais importante para uma especial prevenção a começar pela atitudes, comportamentos e estilos de vida - foi um deslumbramento e um quase choque emocional, ver a demonstração “viva e a cores” de como um pequeno grupo de jovens, inicialmente não motivados por doença sua ou de familiares, decidiu por si e em bloco:
estudar a hipertensão arterial
informar-se sobre causas possíveis e factores agravantes
estudar métodos de diagnóstico e terapêuticas medicamentosa, bem como opções não medicamentosas (sobretudo comportamentos alimentares e estilos de vida – tabaco, sedentarismo, álcool).
teatralmente (e cinematograficamente) transmitir esses ensinamentos aos seus colegas e professores
rastrear a tensão arterial, dados antropométricos e hábitos alimentares, e outros, entre os seus colegas
estudar os familiares dos seus colegas procurando eventuais correlações e estudar também uma amostra de crianças de grupo etário diferente e muito mais baixo.
e apresentar de forma pedagógica os resultados dos seus estudos e das suas observações aos colegas, aos seus familiares e a outras crianças de outras Escolas e outros grupos etários.
Assim assumiram difundir o conhecimento, criar uma cultura de saúde, e exemplificar acções de rastreio em ambiente escolar, ou mesmo improvisar outras intervenções possíveis, na sua e noutras Escolas, afim de lutar contra a famigerada hipertensão arterial, que está a atingir populações cada vez mais jovens.
Foi bom de mais: ensinar, ver, ouvir, comentar e … aprender!
“Ai! Tensão”: como estará a minha, e ficará o meu coração, depois deste deslumbramento emocional???
1 Comments:
Mais uma vez, agradecemos ao Professor Fernando de Pádua todo o apoio e todas as dicas que nos deu ao longo do ano. Relembrar que o facto de não desistir da sua “luta” (que devia ser a “luta” de todos, como muitas vezes nos relembrou) faz de si um verdadeiro exemplo de um cidadão activo, mobilizador.
O grupo Ai!Tensão, vai passar todo o trabalho desenvolvido ao Projecto de Saúde da Escola Secundária de Vergílio Ferreira, que continuará o trabalho com o nosso apoio e o de vários alunos da escola. Daqui a uns anos, será a escola mais saudável do país!
Muitos parabéns pelo prémio Calouste Gulbenkian, sem dúvida que foi merecido!
Ai!Tensão
6:42 da tarde
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