De Fernando de Pádua

24.7.09

O ENFERMEIRO DE FAMÍLIA

Sou fã de Isabel Stilwell. Os seus Editoriais no Destak são frequentemente preciosos, com abordagens precisas e incisivas de temas muitas vezes tão evidentes que acabámos por os esquecer.

♥ Há muito, muito tempo, eu já defendia que nas Consultas de Cardiologia do Hospital de Santa Maria, os enfermeiros(as) deveriam medir, previamente, a tensão arterial aos utentes, para alivio dos efeitos da nossa bata (a tal “hipertensão da bata branca”), e considerava-os também muito importantes para esclarecer, à saída, alguns pormenores da receita. Vários exames aguardavam realização ou parecer do especialista ou, no Centro de Saúde, o tamanho das filas de espera impediam muitas vezes o medico de família de detalhar e explicar as recomendações... e lá estava a ajuda da enfermagem!

♥ Há muito que cito o exemplo dos Centros de Saúde que visitei na Finlândia, com uma área maior dedicada aos serviços no exterior do que aos serviços clínicos no local: visitas domiciliares, meals on wheels (refeições levadas por rodas - de carro - a casa dos doentes), cuidados de enfermagem ou higiene a acamados, exercícios de fisioterapia e reabilitação, assistencia social a pessoas isoladas, etc, etc.

♥ E todos os dias continuo a dizer e a escrever, que a principal “falha” do Serviço Nacional de Saúde (o verdadeiro e grande responsável pelos Cuidados de Saúde Primários), é a sua quase total incapacidade para assegurar assistência domiciliária (apesar dos notáveis bons exemplos recentes de algumas Unidades de Saúde Familiares). Após um enfarte ou AVC o doente tem alta cada vez muito mais precoce, até pela excelência das medidas terapêuticas. Todavia passa, de repente, da Unidade de Cuidados Intensivos – altamente sofisticada e com 3 ou 4 enfermeiros e 2 ou 3 especialistas - para o “sossego do lar” com a (o) companheiro(a) cheia de medo e também de boa vontade, lendo por vezes mal, atrapalhada com os medicamentos e o esquema terapêutico, e ainda sem saber como adaptar àquele universo caseiro a vida a dois, dos quais um é doente com variadas e até desconhecidas limitações. Quantas vezes a presença de um profissional de saúde evitaria o agravamento e o retorno, inesperado e angustiante, para novo internamento na prestigiosa e tão dispendiosa Unidade de Cuidados Intensivos!!!

Uma vez o General Ramalho Eanes, então Presidente da República, visitou o meu Serviço Hospitalar. Alinhei o “corpo” de Enfermagem e disse-lhe: meu General, nós médicos fazemos muitos exames e damos ou escrevemos muitas ordens, mas as verdadeiras curadoras (care-givers) são estas senhoras, que estão perto deles 24 horas por dia (com ternura, amor e carinho).

Isto para dizer, com Isabel Stilwell, com a Dra. Sofia Duarte, Directora Regional de Saúde dos Açores, ou com a Sra. Enfermeira Dra. Maria Augusta de Sousa, Bastonária da Ordem dos Enfermeiros, citadas no Editorial: “Enfermeiros de família, já”!