De Fernando de Pádua

25.1.11

Mais uma vez … os desfibrilhadores portáteis e a morte súbita

Depois de tantos anos a lutar pelos desfibrilhadores portáteis e o ensino do seu uso nas Escolas, acho que é mais uma conquista e um passo em frente para os sub-20 a notícia de que numa Escola do Distrito de Setúbal (relembro o programa CINDI-Portugal, da OMS) foi feito o ensino e a demonstração dos cuidados básicos de vida, em casos de morte súbita, aos alunos do Agrupamento de Escolas da Boa Água – Sesimbra. Parabéns para eles, para nós todos envolvidos nestas campanhas (e sobretudo para cada um que tenha sido salvo, ou venha a precisar de o ser!)

Aproveito para recordar que este tipo de desfibrilhadores portáteis pode ser accionado até por uma criança de 4 anos (depois de informada, claro!)!

A divulgação de vídeos pedagógicos na televisão, cedo ou tarde, virá a ser adoptada!!
E é óbvio que quanto mais tarde pior!...

19.1.11

Pedro Pedro porque me abandonaste?

Foi este o meu sentimento interior quando no anfiteatro da Faculdade de Medicina/ Hospital de Santa Maria na abertura de Sessão Clínica para que fora convidado, ouvimos do Director da Faculdade a notícia: faleceu o Prof. Pedro Lisboa!
Tal como me aconteceu há dois anos com o Metello (Dr. Manuel Dejante Pinto Magalhaes Arnao Metello) a perda do Pedro Lisboa (Prof. Pedro Eurico Lisboa) o 2º dos 4 ou 5 amigos amigos, sinto-a como se perdesse um bocado de mim. O Metello vinha do Liceu, éramos como irmãos, crescendo juntos, o Pedro conheci-o na Faculdade (Hospital de Santa Marta) e a sua sinceridade, frontalidade e cada vez maior amizade eram genuínas– gabava-se de ser o único colega a quem eu chamava de “amigão”, e de saber que eu sabia que se fizesse alguma coisa de errado ele mo diria imediatamente, apesar de eu ser já Prof. Catedrático e seu Director!

Quando comecei a falar em público com as populações (década de setenta), em reuniões, nos jornais, e depois na TV – bem me avisou, seriamente preocupado: Fernando, toma cuidado, tu já subiste tão alto, tens tudo o que querias. Porque te arriscas a cair lá de cima? Vão-te acusar de desejo de protagonismo, de propaganda pessoal.

Ri-me e disse: então eu não sei? Já ouvi tanta coisa, fora o que não me disseram.
Mas agora digo-te eu, tens de me acreditar.
Acredito! Mas acredita em mim, tenho que fazer isto! As pessoas precisam de mim e de nós!!

E assim o Pereira Miguel, o Zé Augusto, o meu Zé Manel, a Maria de Lourdes Modesto, o Correia Nunes, o Pais de Lacerda, o Eduardo Magalhães, o Evangelista Rocha, e sei lá que outros, se me juntaram tantas e tantas vezes na televisão em “O seu motor”, com o José Manuel Tudela! O Pedro chegou a encabeçar comigo um programa orientado pelo malogrado Raul Durão “Consultório” que tanto sucesso teve que a RTP se sentiu obrigada a, no final de cada sessão, pedir desculpa e projectar os nomes de todas as pessoas que tinham enviado pedidos de esclarecimento e a quem pediam sempre desculpa por o tempo se ter esgotado!

A sua exuberância, clareza de exposição e o inato jeito pedagógico com que ensinava as crianças a vigiarem elas próprias o nível de glicemia, e se auto-injectarem com a dose calculada de insulina, eram espectaculares. Se as crianças são capazes (perguntava eu) não serão os adultos suficientemente crescidos para auto-medirem a tensão arterial e auto-modificarem a dose dos medicamentos, de acordo com a orientação do seu medico de família? automedicação supervisionada!

Foi também o primeiro a quem vi dar aulas de educação para a saúde dos seus doentes – diariamente na Consulta de Diabetes do Hospital de Santa Maria subia para um banco e pregava uma verdadeira homilia científica aos 20 ou 30 doentes que aguardavam consulta.

Recordo constantemente uma das suas mais claras explicações para o sucesso da mediatização da saúde na TV: a primeira vez que o convidei a juntar-se a mim numa das minhas palestras de promoção da saúde, veio dizer-me logo de manhã: «Oh Fernando, mal dormi esta noite a pensar! É que cheguei à conclusão de que teria de viver quatrocentos anos para dar esta lição a todas as pessoas que me vão ouvir hoje na TV!!!»

Recordação inesquecível o seu Doutoramento: à boa maneira Coimbrã o catedrático de fora desdenhou e criticou (exageradamente no meu entender) o seu trabalho de longos anos (possivelmente, dizem, para provocar e enriquecer a discussão), mas ele, e os seus, sentiram-se amachucados. E depois de, na minha intervenção, ter dado o testemunho pessoal da sua perseverança, da sua luta, e do imenso trabalho que eu vira crescer ao longo dos anos, veio-me agradecer comovido: oh Fernando estavam lá os meus filhos e a minha mulher: ficaram em lágrimas, orgulhosos, e perdoaram-me todo o tempo que lhes tinha roubado.

Quando na Sessão Científica de hoje, onde eu era simples convidado, ouvi dizer que te tinhas ido embora – Pedro, meu amigão – pedi a palavra para recordar a todos como tu animavas e enriquecias sempre todos.
Nas sessões confessavas-te eterno estudante «eu sou o estudante mais velho que todos, aqui estou e quero perguntar o que os outros não tiveram coragem de fazer: explique lá... isto ou aquilo!»
Seguias na discussão o exemplo inesquecível do saudoso Prof. Armando Ducla Soares, o exímio comentador que tanto enriquecia as sessões quando falava.
E estou a ver o Pedro, no dia em que apresentaram um caso de leucemia aguda numa criança, depois de curada, levantar-se e voltar-se para uma centena de alunos e gritar: «vocês percebem o que estão a ver? Isto é um milagre!! Antigamente este diagnóstico era um horror, morte certa, e uma tragédia para a família toda. E hoje 80% são curados! Acreditem que é um milagre da Medicina!»
Adeus Pedro. Não só Ele, também tu fizeste milagres!
Grande Xi-Coração do teu amigo! Isto é… amigão!

Fernando