Morreu-me o Prof. Manuel Ramos Lopes – foi o terceiro entre os amigos muito próximos que perdi recentemente: começou com o José Matias Sousa Vaz, de Almodôvar, a terra da minha infância e do meu coração, depois foi o Manuel Metello, o maior amigo de sempre, toda a vida desde os tempos do Liceu, e agora o Prof. Ramos Lopes, o Académico cuja amizade se foi fortalecendo em cada encontro universitário, em cada luta pela Cardiologia Preventiva, em cada Concurso de provas académicas e por fim em cada sessão nos Congressos de Cardiologia e de Hipertensão, onde nós dois, mais velhos, quais jarrões, guarnecíamos lado a lado a primeira fila, e nos juntávamos com as respectivas esposas, à mesa dos jantares, conversando toda a noite em Lisboa, Coimbra, Vilamoura e até Salvador da Bahia, Londres, Florença, ou Belém do Pará.
Quis tê-lo a presidir à Fundação Portuguesa de Cardiologia, quando eu a quis deixar para implementar o Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva, que deveria ter sido o “braço armado” da Fundação! Infelizmente as coisas não puderam ser assim porque “o dever o prendia” antes de se aposentar, querendo deixar a sua «casa» bem arrumada, com dois herdeiros de alto gabarito que ele se estava a esforçar por ajudar condignamente, antes da sua própria Jubilação.
Outros, muito melhor do que eu (sendo conterrâneos) poderão testemunhar da vida do Prof. Ramos Lopes em Coimbra. Por mim recordo as suas conversas, escritos e os nunca esquecidos poemas. Dentre os versos quero recordar com este exemplo da sua lavra, que dedicou ao meu neto que nesse ano nos acompanhou) a maneira poética como relatava todos os eventos:
“Despertar”
Ao meu jovem Amigo Vasco Pádua
Jantei certo dia em Chaves,
E não foi em nenhum tasco,
Com o Pádua e a Família,
Incluindo o neto Vasco.
Que petiscou um presunto
Da terra, bem saboroso:
Fosse do sal ou da febra
Achei-o muito gostoso.
Vasco, Vasco, Vasco, Vasco,
Vai tomando gosto à vida.
Que Deus te faça feliz
Sem conta, peso ou medida.
Chaves, Convento de S. Francisco
2.2.2002
Obrigado meu Amigo Manuel Ramos Lopes por teres existido!
Fernando de Pádua